CARACAS, 1 de fev de 2019 às 16:00
Dom Juan de Dios Peña, Bispo da Diocese de El Vigía-San Carlos de Zulia, na Venezuela, visitou recentemente a Diocese de Córdoba (Espanha), onde concedeu uma breve entrevista.
Dom Peña assegurou que na Venezuela estão vivendo "acontecimentos totalmente inéditos". Explicou que, até dezembro de 2018, a população venezuelana estava totalmente desesperançada, "não se via nenhuma saída possível", no entanto, depois do dia 23 de janeiro, quando o presidente do Parlamento, Juan Guaidó, foi proclamado presidente interino, "temos uma luz que começa a iluminar".
"Sabemos que esse processo, essa transição não será fácil porque neste momento o presidente Guaidó que é presidente da Assembleia Nacional e Presidente Interino da República, conta com o apoio da comunidade internacional e da maioria do povo, como puderam acompanhar no dia 23 de janeiro, quando convocou uma grande manifestação e em todas as cidades do país saíram multidões nunca vistas na Venezuela", disse o Prelado.
No entanto, acrescentou que "só falta o apoio das forças armadas a quem ele tem enviado o tempo todo uma mensagem, estão preparando inclusive uma lei de anistia para facilitar o retorno das forças armadas ao apoio popular”.
Dom Peña explicou na entrevista concedida ao site da Diocese de Córdoba que nos últimos dias a perseguição aos manifestantes se agravou e há muitos presos políticos.
"O mais doloroso é que há crianças presas e passaram por cima de todas as leis, porque temos uma lei que favorece crianças e adolescentes, e isso não foi levado em consideração", destacou.
O Prelado também fez referência à profanação da igreja de Nossa Senhora de Guadalupe durante a celebração da Missa.
"Muitas imagens foram destruídas, muitas pessoas foram espancadas, ou seja, nos últimos dias a violência do governo aumentou e ainda querem manter o presidente Maduro”, afirmou.
"Mesmo assim, não perdemos a esperança de que podemos superar essas dificuldades", declarou e agradeceu também o apoio de muitas pessoas da Europa que rezam por esse país.
"Isso nos enche de muita esperança, porque no fundo sabemos que não estamos sozinhos, que, embora tenhamos um fardo muito pesado para carregar, algumas dificuldades a superar, contamos com o apoio espiritual e sobretudo que já saibam da realidade da Venezuela", destacou.
Dom Peña também explicou que, embora a Venezuela tenha sido um país rico há alguns anos, atualmente “as pessoas estão morrendo por falta de alimento, há crianças desnutridas que não vão à escola porque desmaiam de fome, há muitas pessoas que estão morrendo porque não tem medicamentos nos hospitais, é uma situação muito difícil”.
"Só esperamos que esta luz que estamos vendo no fim do túnel, esta oportunidade que está sendo apresentada a nós e que muitos veem como Deus que nos dá a mão para seguir adiante, realmente possa nos levar a construir esse país que todos desejamos”, assegurou.
Em relação ao trabalho que a Igreja tem desenvolvido na Venezuela, Dom Peña explicou que a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) sempre foi muito clara em seus documentos com "uma postura muito firme".
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Segundo explicou, durante os primeiros dias do mês de janeiro, a CEV esteve reunida e apresentou um documento no qual “fomos claros que reconhecemos apenas a Assembleia Nacional, reconhecemos o presidente Maduro como ilegítimo, porque anteriormente não havíamos reconhecido as eleições que o elegeram”.
Além disso, destacou que "a posição da Igreja, que é sempre esperada pelos fiéis, realmente também criou esta atmosfera de ânimo, de esperança, porque nossos fiéis sentem que não estão sozinhos". Além disso, muitas das manifestações de 23 de janeiro foram "encabeçadas pelos bispos, por muitos sacerdotes e por leigos comprometidos".
“Lamentavelmente, eu estava fora por compromissos pastorais, mas em Roma eu me juntei a uma espécie de jornada de oração que aconteceu e terminou com uma breve concentração na Praça de São Pedro, e no fundo, embora eu estivesse fora, meu coração em espírito estava dentro. De fato, enviei uma mensagem aos meus sacerdotes para que no dia 23 de janeiro eles acompanhassem o povo", contou.
Dom Peña também explicou que o Papa Francisco pediu em numerosas ocasiões que se mantenham "próximo ao povo" e agradeceu pela "resistência" e "constância" dos Bispos.
"A Igreja e os grupos de apostolados, os leigos, com certeza estiveram muito presentes nesta luta que não é uma luta de forças, nós consideramos que esta é uma luta espiritual, de muita oração, mas acima de tudo, muito testemunho", afirmou o Prelado.
Agradeceu também à Caritas Internacional "por toda a ajuda que deram a todos os emigrantes", mas também à Cáritas nacional, pois, graças à sua ajuda, "pudemos ajudar muitos dos nossos irmãos especialmente no tema da saúde e um pouco no tema da alimentação".
Embora esperassem que o governo da Espanha respondesse da mesma forma que os Estados Unidos ou o Canadá, a Espanha se pronunciou de maneira favorável a respeito, mas não fez um reconhecimento oficial.
Dom Peña pediu especialmente que se ajude o povo venezuelano "com a oração". Também explicou que, quando os Bispos da Venezuela visitam a Europa, eles retornam com suas malas cheias de "remédios que muitas pessoas nos dão".
Recordou que, quando o canal humanitário abrir, "precisaremos de ajuda especialmente de medicamentos, porque precisamos muito para atender emergências, porque é triste ver como a maioria das crianças com menos de cinco anos já está em um nível alarmante de desnutrição. E todos nós sabemos que isso é irrecuperável".
No entanto, mostrou-se esperançoso de "poder salvar muitas dessas criaturas" e insistiu que eles esperam "ajuda humanitária porque não vivemos uma crise, mas vivemos uma emergência humanitária e isso é bom que saibam".
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— ACI Digital (@acidigital) 1 de fevereiro de 2019